domingo, 8 de maio de 2011

CADA DIA SE BASTA (parte 3)

ATÉ QUE A MORTE OS...

Emiliano não podia entender a mãe com os olhos arregalados, aquele pavor em sua face não combinava com a docilidade que transmitia e cultivava. O mais intrigante era aquele sorriso no rosto do pai, parecia mais uma nova faceta. Morreu com um charuto numa mão, o controle remoto na outra e um copo de conhaque pela metade, comentou ao seu ouvido um bajulador.
Toda aquela gente, todos aqueles pêsames e lhe ocorreu que não teria nenhum dos dois, nem mesmo para nunca mais.
O pai sempre fora popular, a mãe sempre estivera ao seu lado, nada mais original os dois ali lado a lado como sempre. Ajeitou o bigode, lembrou-se de algo que lera um dia sobre a vanidade da vida; olhou de novo para o pai inerte e teve náuseas.

Ensaiando um conto...
Paulo Roberto Wovst Leite.

Um comentário:

  1. Esse pai com as mãos sempre ocupadas demais para o abraço. O charuto, o controle, com que tentava, de longe, determinar a imagem cristalizada na tela, através da qual eram obrigados a ver o mundo e sua ausência de notícias confiáveis. A morte. Não havia mais como comprovar as fontes.

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